A terapia endodôntica mecanizada tem passado por avanços significativos nos últimos 15 anos. A introdução de materiais como ligas de níquel-titânio revolucionou o campo, permitindo a fabricação de instrumentos rotatórios muito mais flexíveis e seguros.
Houve também uma grande evolução dos motores endodônticos. São mais precisos, mais calibrados, com localizadores foraminais internos que permitem interrupção do movimento e retrocesso da lima. Reduzem acidentes de perfuração, trespasse ou fratura da lima.
Essas e outras inovações têm permitido uma melhora substancial na precisão, eficácia e na previsibilidade dos tratamentos endodônticos. Proporcionam benefícios tanto para os pacientes quanto para os profissionais da área. Meu objetivo neste artigo é estimular os colegas “old school” que realizam a terapia tradicional a aderirem a essas inovações.
Terapia Endodôntica Mecanizada
Limas Mecanizadas de Níquel-Titânio
As ligas de níquel-titânio têm propriedades únicas que as tornam ideais para uso em instrumentos endodônticos. Sua alta flexibilidade e memória de forma permitem a criação de instrumentos mais resistentes à fadiga cíclica, um problema comum encontrado em tratamentos de canal. Esses instrumentos flexíveis podem acompanhar melhor a forma do canal radicular, alcançando áreas de difícil acesso e curvas acentuadas. Isso resulta em um preparo mais completo e eficiente do sistema de canais radiculares, removendo mais efetivamente a polpa infectada ou necrosada.
Nesse sentido os materiais de níquel-titânio também possibilitam a fabricação de instrumentos com seções transversais não circulares, como retangulares ou triangulares. Em síntese, tais geometrias alternativas ajudam a minimizar o acúmulo de detritos e proporcionam um melhor controle da irrigação durante o tratamento. Isso reduz o risco de contaminação bacteriana e melhora a desinfecção do sistema de canais radiculares.
Terapia Endodôntica Mecanizada
Tecnologia Digital Oferece Precisão
Os avanços nos motores endodônticos também contribuíram para a evolução da terapia endodôntica. Os motores atuais possuem sistemas de controle de torque e velocidade mais precisos, permitindo um trabalho mais seguro e eficiente. A rotação controlada dos instrumentos de níquel-titânio em conjunto com esses motores proporciona um preparo mais uniforme e menos traumático dos canais radiculares.
Alguns motores possuem tecnologia que permite interrupção e retrocesso do movimento da lima se houver ameaça de ultrapassagem do comprimento de trabalho. O controle do torque impede o travamento do instrumento no momento do preparo da escultura interna do canal. Isso impede a fratura acidental das limas rotatórias
Simultaneamente, a tecnologia digital tem desempenhado um papel importante no avanço da terapia endodôntica. Imagens de alta resolução, como a tomografia computadorizada de feixe cônico (CBCT), fornecem uma visualização tridimensional detalhada da anatomia radicular. Permitem um diagnóstico mais preciso e um planejamento adequado do tratamento. A utilização de sistemas de localização eletrônica do ápice (localizadores foraminais) também tornou-se rotineira, auxiliando na determinação do comprimento de trabalho dos instrumentos e melhorando a precisão dos procedimentos.
Terapia Endodôntica Mecanizada
Essas inovações tecnológicas têm impactado positivamente os resultados clínicos dos tratamentos endodônticos. Aumentou-se a taxa de sucesso na manutenção dos dentes tratados, reduzindo a necessidade de extrações. Ademais, a utilização de instrumentos rotatórios de níquel-titânio tem permitido um preparo mais rápido e eficiente dos canais radiculares, reduzindo o tempo total de tratamento e melhorando o conforto do paciente.
Aparelhos de Ultrassom na terapia Endodôntica
Um dos avanços na terapia endodôntica é a utilização de aparelhos de ultrassom odontológico, que emergiram como uma ferramenta valiosa e têm desempenhado um papel crucial na melhoria do preparo da câmara pulpar para acessar os canais na terapia endodôntica mecanizada.
Os aparelhos de ultrassom odontológico funcionam emitindo ondas sonoras de alta frequência que são transmitidas para a ponta do instrumento. Quando aplicado à região alvo, como a câmara pulpar, o ultrassom é capaz de realizar uma série de funções benéficas. Uma delas é a remoção eficiente de tecido mineralizado, dentina cariada e detritos presentes na entrada dos canais, o que contribui para um preparo mais preciso e meticuloso. Além disso, o ultrassom pode auxiliar na localização da entrada de canais radiculares atresiados e difíceis de identificar apenas com instrumentos manuais.
Assim também as pontas diamantadas desenvolvidas para os aparelhos de ultrassom odontológico representam um avanço notável na tecnologia odontológica, especialmente quando se trata do preparo da câmara pulpar durante a terapia endodôntica. Essas pontas são projetadas especificamente para trabalhar de forma eficaz e precisa na remoção de tecido pulpar infectado, detritos e outras obstruções nas entradas dos canais radiculares.
Terapia Endodôntica Mecanizada
As pontas diamantadas são feitas de diamante sintético, que são conhecidos por sua durabilidade e capacidade de cortar com precisão. A utilização de diamantes na fabricação dessas pontas confere a elas a capacidade de desgastar o tecido de forma controlada e eficiente, minimizando o risco de danos à estrutura dentária circundante
Além disso, as pontas diamantadas para ultrassom odontológico são frequentemente projetadas para funcionar em diferentes modos, como corte, raspagem e desgaste, permitindo que o dentista adapte a abordagem de acordo com a situação clínica específica.
Similarmente, existem pontas desenvolvidas para, atravéz da vibração gerada pelo ultrassom, auxiliar na desintegração de biofilme bacteriano e debris, contribuindo para uma desinfecção mais completa dos canais radiculares. A limpeza eficaz é essencial para evitar reinfecções e promover a cicatrização adequada dos tecidos periapicais.
Aparelhos de Rx portáteis
Hoje existem no mercado aparelhos de rx pesando menos de 5 kilos, com níveis mínimos de emissão de radiação que permitem muito conforto, agilidade, acessibilidade e versatilidade na hora de radiografar.
Se isso for somado então aos sistemas digitais de imagens radiográficas oferecidos por alguns desenvolvedores de softwares e aos Sensores Digitais que substituem as tradicionais películas radiográficas, torna-se uma poderosa ferramenta de diagnóstico e planejamento da terapia endodôntica.
A redução na exigência de espaço para armazenamento de documentação radiográfica física que será substituída pela digital e facilidade de guardar e encontrar, mesmo que o cliente retorne anos depois. Evita extravio, deterioração pelo tempo, garante segurança jurídica. Todos esses equipamentos estão disponíveis no mercado odontológico. Haverá a necessidade de um certo valor de investimento, mas tem o seu retorno certamente.
Aparelhos óticos e Microscópios
Várias possibilidades de equipamentos óticos permitem reduzir o tempo de trabalho na pesquisa de canais radiculares atresiados em câmaras calcificadas. E se o profissional tiver condições de investir mais ainda, modernos microscópios endodônticos vão representar um grande conforto para o profissional e segurança para o paciente.
Tudo isso pode significar status junto à clientela, o respeito dos colegas e realização profissional.
Conhecimento + Experiência + Tecnologia
No entanto, é importante ressaltar que, apesar dos avanços, a experiência clínica e habilidade do profissional de odontologia ainda são fundamentais para o sucesso da terapia endodôntica. Haja vista que a utilização de materiais e tecnologias avançadas é apenas uma parte do processo. A compreensão da anatomia radicular, a identificação de canais acessórios e a realização de um preparo adequado ainda requerem habilidades clínicas apuradas e conhecimento profundo da especialidade.
Além disso, cada caso é único, e é essencial que o profissional faça uma avaliação completa do paciente, incluindo histórico médico, exames radiográficos e testes de sensibilidade, antes de iniciar o tratamento endodôntico. A personalização do tratamento com base nas características individuais do paciente é crucial para alcançar resultados satisfatórios.
É importante destacar que a evolução da terapia endodôntica não se restringe apenas aos materiais e tecnologias utilizados. A compreensão dos processos biológicos envolvidos na regeneração tecidual e no controle da infecção também tem progredido significativamente. A pesquisa na área da endodontia continua avançando, explorando novas técnicas e abordagens, como o uso de biomateriais e terapia regenerativa, que visam não apenas eliminar a infecção, mas também promover a regeneração dos tecidos.
Terapia Endodôntica Mecanizada – Vantagens para saúde do Cirurgião Dentista
Além dos benefícios para o cliente existe uma grande vantagem para o profissional: é muito mais agradável trabalhar com precisão e muito menos cansativo. Realizar o tratamento endodôntico de dentes com 3 , 4 canais pode ser muito extenuante tanto para o profissional quanto para o cliente. Os sistemas mecanizados permitem diminuir a quantidade de consultas ou diminuir o tempo de trabalho. Mas mesmo que alguns casos mais difíceis não diminuam a quantidade de consultas, certamente diminui a fadiga do profissional.
Ademais, sabemos que o processo de instrumentação ou a modelagem dos canais é a etapa mais cansativa. E é nesse momento que aparecem as maiores vantagens para saúde do cirurgião dentista. O trabalho de instrumentar manualmente pode levar a lesões por esforços repetidos (LER) que incluem tendinites, bursites e problemas na coluna. Sobretudo, o desempenho dos motores endodônticos eletrônicos traz um grande alívio para qualidade de vida do profissional.
Qual o caminho a tomar?
Terapia Endodôntica Mecanizada
Se o colega ainda utiliza a terapia endodôntica manual tradicional com odontometria radiográfica e ainda não aderiu à terapia mecanizada e tem desejo de adentrar a esse pequeno universo, aconselho e buscar uma escola de aperfeiçoamento ou mesmo especialização. Não aconselho a simplesmente adquirir os novos materiais e começar a utilizar sem orientação específica. Temos que conhecer os limites mecânicos dos instrumentos e riscos de uso incorreto.
A possibilidade de somar a experiência de anos de prática clínica, o “olho clínico”, a capacidade de obter um diagnóstico correto em inúmeras situações subjetivas que frequentemente desafiam o endodontista. Há casos em que não é possível realizar toda a terapia endodôntica de forma mecanizada, então aqui você vai somar experiência, paciência, habilidade e expertise necessária na solução de casos mais complexos
Em conclusão, é importante ressaltar que a expertise clínica do profissional e a personalização do tratamento continuam sendo fatores críticos para o sucesso do procedimento. Do mesmo modo, a pesquisa e o desenvolvimento de novas abordagens continuam impulsionando a evolução da terapia endodôntica, buscando sempre melhores resultados e o bem-estar dos pacientes e profissionais.
E agora mudando de assunto, você está atualizado sobre os cuidado a tomar em relação a pacientes recém recuperados de Covid?
Autor: Nivaldo Pinho Gonçalves, Periodontista, CROSC 9696.
sugestão: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/1664/2/T_14317.pdf