Dente do Siso inflamado: este é um assunto que sempre dá o que falar! O nome siso advém do fato de que erupciona entre os 18 e os 22 anos aproximadamente, período em que os jovens alcançam a maturidade (ou pelo menos deveria alcançar, hehe!.
A dentição humana tem 32 dentes. O último dente a erupcionar (nascer) e que aparece como último dente de cada lado é o terceiro molar. Ele é o oitavo dente contando a partir do incisivo central. Portanto temos 4 dentes, 2 em cima e 2 em baixo.
Em outro artigo temos um modelo com nomes dos grupos de dentes e sua localização para ajudar a entender melhor. Mas, porque é que esse dente coleciona tantas histórias? Neste artigo vamos responder a muitas dúvidas sobre os Dentes do Siso.

Dente do Siso: Qual a razão da fama destes dentes?
Porque é que tantas pessoas tem histórias de sofrimento com os dentes dos Siso? É porque na maioria das vezes quando chega a época do dente nascer ele não encontra espaço suficiente para se posicionar corretamente. Em alguns casos o dente nem consegue sair de dentro da gengiva porque fica travado atrás do segundo molar.
Outros casos há, em que o dente se posiciona deitado, girado, de cabeça para baixo até, em uma posição totalmente fora de condições que permita nascer e se posicionar corretamente. Uma das causas disso acontecer é que nessa idade a dentição do jovem já está desenvolvida e bem organizada em equilíbrio com as maxilas. Essa situação já definida não aceita a chegada de mais um dente. Então resumindo, falta espaço para mais um dente.
Teoria da Evolução
A maioria dos estudiosos aceita a teoria de que a razão de termos uma incidência tão alta de pessoas que passam por problemas relacionados à falta de espaço para erupção dos terceiros molares está ligada à evolução (ou micro evolução) dos seres vivos.
1. Mudanças na Dieta: A teoria da evolução nos mostra que os ancestrais humanos tinham uma dieta muito diferente da nossa dieta atual. Eles costumavam consumir alimentos mais duros e fibrosos, o que desgastava os dentes mais rapidamente. Os dentes do siso eram úteis nesse contexto, pois forneciam um dente a mais para auxiliar no trabalho de mastigar. No entanto, à medida que a dieta humana mudou e se tornou mais processada e macia, a necessidade de dentes do siso diminuiu.
2. Mudanças Anatômicas: A evolução também moldou a estrutura do crânio e da mandíbula ao longo do tempo. Com a mudança na dieta e o uso menos intenso dos dentes do siso, a mandíbula humana tendeu a se tornar menor ao longo das gerações. Isso criou menos espaço disponível para os dentes do siso erupcionarem corretamente, resultando em inclusões ou semi-inclusões.
3. Problemas Modernos: Nos tempos modernos, os dentes do siso frequentemente não têm espaço suficiente para erupcionar adequadamente, devido às mudanças na dieta e na anatomia mandibular. Isso pode levar a problemas de saúde bucal como inflamação das gengivas ao redor do dente semi-incluso (pericoronarite). Esse condição favorece a formação de cistos, dor e pressão nos dentes adjacentes.
Dentes do Siso podem entortar outros dentes?
As coisas não são tão simples assim. Durante o crescimento e desenvolvimento as maxilas apresentam um surto de crescimento “para frente” cada vez que um molar ou pré-molar está erupcionando. Ou seja, cada vez que nasce um dente, as maxilas crescem para criar espaço para o novo hóspede.
rx panorâmico mostra 3ºs mols semi inclusos

E essa tendência da maxila aumentar para abrigar mais um dente também acontece no momento da chegado do terceiro molar. E a chegada desse dente pode acontecer até perto dos 25 anos principalmente no sexo masculino. Logo, esse crescimento residual da (mandíbula principalmente) pode acontecer em um momento em que tudo já estava definido em termos de oclusão – só que não! – é aí que surgem os problemas. Na hora da mandíbula ter que dar um “jeitinho” pode “bagunçar a casa”.
Em alguns indivíduos a mandíbula até tenta crescer um pouco para criar espaço para esses elementos mas isso pode desorganizar a região anterior da arcada. Os dentes incisivos inferiores sofrem um apinhamento dental porque ao encontrar a barreira dos incisivos superiores impedindo esse avanço faz com que os dentes incisivos inferiores inclinem-se para lingual (para dentro) diminuindo o perímetro do arco, aí eles começam a brigar por espaço e começam a entortar.
Dentes do Siso podem provocar cárie em dentes vizinhos?
As palavras não são essas exatamente, eles não provocam a cárie, mas em terceiros molares semi-inclusos é muito comum encontrarmos uma condição onde o siso impede o acesso do fio dental à região cervical do segundo molar. Além disso a condição favorece o acúmulo de placa bacteriana escondida abaixo do ponto de contato entre os dois dentes.
Por exemplo, podemos verificar na figura 3 uma radiografia com impacção do terceiro molar inferior esquerdo (dente 38), impactado atrás do segundo molar que desenvolveu uma lesão de cárie na cervical. Diga-se de passagem, em uma localização muito desfavorável para o dentista alcançar a cárie e consertar o problema.
Além de ser difícil de alcançar com a broca na hora de restaurar, os tecidos moles – a gengiva possivelmente cobrindo a região – pode sangrar e atrapalhar o selamento periférico da restauração. O indicado é extrair o dente do siso, esperar cicatrizar para então restaurar do segundo molar. Mesmo assim realizar a restauração de maneira satisfatória se tornará uma tarefa extremamente desafiadora.
Dente do Siso e Cárie no ponto de impacção.
Já presenciei vários casos onde a cárie destruiu o segundo molar a ponto do cliente procurar o profissional porque já estava sentindo dor – não no siso – mas no segundo molar. Isso a ponto de ter que fazer um tratamento de canal no segundo molar. E em outros casos a destruição do segundo molar pode inviabilizar o dente. Resultado: a perda do segundo e do terceiro molar, infelizmente.

É muito comum que o jovem só perceba a presença desse dente quando a gengiva que cobre o dente começa a sofrer trauma mastigatório provocado pelo dente antagonista. Ou então o mal posicionamento promove o acúmulo de bactérias por dentro da gengiva e ao redor da coroa do Siso o que leva aos episódios de Abscesso Pericoronário – mais popularmente – pericoronarite.
Dente do Siso Inflamado
Pericoronarite – Abscesso Pericoronário
Esta condição é bastante comum, muito desconfortável e com variados níveis de intensidade. Pode ser transitório ou de episódio único mas pode se tornar mais crônica com episódios de agudizações recorrentes. Existe o risco de se transformar em perigosas infecções que exigem muita atenção e eventualmente a necessidade de controle do quadro com antibióticos.
Casos mais raros podem evoluir para Angina de Ludwig – com alta morbidade – é uma infecção grave que leva ao desenvolvimento de um grande abscesso – grande acúmulo de pus . Esse abscesso toma todo o pescoço e exige intervenção de drenagem em hospital por ameaçar as vias respiratórias do paciente.
Esses abscessos pericoronários também podem desencadear crises de doenças auto-imunes em indivíduos com tendência a artrite reumatóide, endocardite, vasculites e aumento de risco de tromboses.
Em outras situações a coroa de um dente do Siso incluso ou semi-incluso pode tocar a parte posterior do segundo molar seja na raiz ou a região cervical (limite entre coroa e raiz). Podemos ver essa situação expressa na fig 2 B . Esse contato favorece a formação de carie nos segundos molares por causa da impossibilidade de limpar nesse lugar. Já vi casos de caries associadas a terceiros molares semi-inclusos levarem o segundo molar ao tratamento de canal. Já atendi casos de destruição a ponto de necessitar a extração do segundo molar além do terceiro molar, causador do problema.
Diagnóstico Pericoronarite
O que fazer diante da suspeita de que determinado desconforto está relacionado ao surgimento do dente do Siso?
Na visita ao consultório o cirurgião dentista vai examinar a região para conferir se o dente do Siso está presente e se a posição em que ele se encontra é harmônica ou se tem potencial para produzir alterações patológicas. Caso o dente esteja incluso ou semi-incluso muito possivelmente vai pedir que o cliente faça uma radiografia panorâmica.
Quando um dente está “Incluso” significa que está totalmente coberto por gengiva, portanto impossível até de saber se este dente está presente no lugar – exige a confirmação radiográfica.
Todas a pessoas tem dentes do siso?
Alguns indivíduos tem a sorte de vir ao mundo livres geneticamente deste grupo de dentes. Podem tem agenesia de 1,2,3 ou mesmo ausência dos 4 dentes do Siso. Então, algumas pessoas não tem esse dente.
Quando o dente está na categoria “Semi-incluso” significa que está parcialmente coberto por gengiva. Esta é a forma que mais se associa a condições patológicas porque as bactérias bucais invadem o entorno do dente através da comunicação com a boca. Assim, quando utilizamos a palavra “impactado” significa que está travado, preso atrás do segundo molar. O dente fica impedido de concluir o processo de erupção.
Dente do Siso Inflamado
Como tratar?
Geralmente não se aconselha operar – extrair – os dentes em condição de infecção aguda. O mais recomendado é controlar o processo infeccioso/inflamatório com antibióticos e higienização utilizando antissépticos bucais. Quando a estabilização do quadro é alcançada (eliminação da infecção) avalia-se a possibilidade de submeter o cliente à cirurgia com a proteção do antibiótico e anti-inflamatórios. Em alguns casos pode-se utilizar relaxantes musculares e corticoides no pós operatório para diminuir o inchaço e desconforto.
Exames radiográficos são particularmente importantes para análise dos casos de Terceiros molares semi-inclusos impactados – o planejamento da cirurgia de remoção pode exigir até a realização de tomografias para avaliar a proximidade do Nervo Alveolar e os vasos sanguíneos próximos a este nervo.
Ademais a experiência profissional, o planejamento da cirurgia e da terapia medicamentosa, uma boa anamnese e instrumental adequado são indispensáveis para o conforto do paciente durante e no pós-cirúrgico.
Então se você está sentindo algum tipo de desconforto na região dos últimos dentes, não deixe o processo se agravar. Não deixe para doer no fim de semana quando está tudo fechado. Procure agendar uma vista ao dentista.
Autor: Nivaldo Pinho Gonçalves, Periodontista, CROSC 9696.
refer: JAN, Lindhe; LANG, Niklaus P.. Tratado de periodontia clínica e implantologia oral. 6. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018, 1292 p.