Quais características estéticas dão harmonia aos elementos encontrados na boca, além da Anatomia Dental, que nos fazem perceber como beleza? Como saber se essas estruturas estão saudáveis e em condições de trabalhar com perfeição?
Da complexidade do periodonto à fantástica formação das estruturas mineralizadas dos dentes, queremos convidá-lo a conhecer as estruturas bucais e os tecidos que constituem nossos dentes e gengivas. Mergulhe nessa jornada educativa e desvende o mundo da Anatomia Dental.
O elemento dental
O dente dos mamíferos é um órgão composto por diferentes estruturas que desempenham funções específicas. Macroscopicamente ou morfologicamente o dente tem: Coroa, Raiz e Câmara Pulpar que é uma espécie de túnel que passa por dentro do dente e dentro deste túnel existe a Polpa Dental que é um tecido mole que possui células e é nutrido por circulação sanguínea.

A Coroa é a parte que fica visível – para fora das gengivas – responsável diretamente por cortar e triturar os alimentos. A Coroa corresponde a cerca de 1/3 do comprimento do dente.
Os 2/3 restantes do comprimento do dente são formados pela Raiz dental que é a parte que fica escondida dentro das gengivas, responsável por sustentar o dente preso às maxilas e suportar o esforço mastigatório. No extremo oposto ao da coroa dental fica o Ápice Radicular, é o finalzinho da raiz, na parte mais profunda, mais escondida para dentro dos maxilares.
Aí nesse ponto encontra-se o Forame Apical – um pequeno orifício – quase da largura de fio de cabelo por onde passa uma arteríola e uma vênula (que são vasos sanguíneos muito fininhos de chegada e saída de sangue) responsáveis por alimentar as células da polpa dental e finamente uma fibra nervosa responsável por dar sensibilidade aos dentes, o famoso nervo dental.
Anatomia Dental – Grupos de dentes conforme a função
O ser humano possui 32 dentes, 16 no arco superior (maxila) e 16 no arco inferior (mandíbula). Em cada maxila nós temos bilateralmente 4 grupos de dentes: Incisivos, Caninos, Pré-molares e Molares. Esses grupos se dividem morfologicamente conforme a função: Os Incisivos e Caninos cortam os alimentos e os pré-molares e molares trituram.

Anatomia Dental – Quais tecidos formam os dentes?
Agora vamos tratar histológicamente ou seja – vamos analisar os tecidos que compõe cada uma dessas partes da anatomia dental: A Dentina constitui a Raiz do Dente. O Esmalte reveste e protege a Dentina na porção chamada de Coroa. Já a polpa dental é um tecido não-mineralizado. Vamos descrever cada uma delas e apresentar desenhos didáticos que as diferenciam.
Esmalte
1. Esmalte: O esmalte é a camada mais externa do dente e tem a aparência de uma fina camada branca ou translúcida. Ele é a substância mais dura do corpo humano e tem como função principal proteger a dentina subjacente. O esmalte é composto principalmente por minerais como hidroxiapatita e não possui células vivas. Sua estrutura cristalina permite resistir às forças de mastigação e proteger o dente contra o desgaste causado pela mastigação e pela exposição a substâncias ácidas.
É uma das maravilhas da criação. O órgão formador do esmalte, que constrói o esmalte, forma o esmalte ao longo do período embrionário é um tecido delicado, quase gelatinoso. Esse tecido chamado de órgão do esmalte é capaz de formar uma das estruturas mais duras da natureza. Esse órgão de esmalte recobre a coroa do dente ao longo do período de formação dos dentes. Ao erupcionar na boca o órgão de esmalte encerra o seu papel formador e desaparece, transformando-se em epitélio juncional, tecido delicado responsável por “colar” gengiva ao dente, que vai circundar o dente formando a união gengiva-dente.
A principal substância presente no esmalte dental é um mineral chamado hidroxiapatita, que é uma forma cristalina de fosfato de cálcio. A hidroxiapatita representa aproximadamente 96% da composição do esmalte dental.
Além da hidroxiapatita, o esmalte também contém pequenas quantidades de outros minerais, como fluoreto, carbonato, magnésio e sódio. Esses minerais ajudam a fortalecer o esmalte e a resistir à desmineralização causada por ácidos e bactérias.
Outros componentes do esmalte dental incluem água (cerca de 3-4%), proteínas (principalmente colágeno), lipídios (gorduras) e traços de íons metálicos, como zinco e cobre.
Dentina
2. Dentina: A dentina é uma camada de tecido duro localizada logo abaixo do esmalte. Ela constitui a parte radicular – toda a raiz do dente e a parte da coroa abaixo do esmalte. A dentina é mais amarelada e menos dura que o esmalte, mas ainda assim muito resistente. Apesar de ser muito mineralizada ela possui fibras colágenas envolvidas por matriz calcificada. Assim essas fibras colágenas dão à dentina certa capacidade de deflexão permitindo resistir aos esforços mastigatórios. Ademais, a dentina é formada por túbulos microscópicos que contêm prolongamentos de células especializadas chamadas odontoblastos. Esses odontoblastos produzem a dentina ao longo da vida do dente, ajudando a mantê-lo nutrido e protegido. A dentina também possui uma sensibilidade maior que o esmalte, uma vez que os túbulos dentinários podem transmitir estímulos externos para a polpa dental como temperatura e pressão.
A dentina é composta principalmente por hidroxiapatita, que é um mineral de fosfato de cálcio. No entanto, a dentina contém uma proporção menor de hidroxiapatita em comparação com o esmalte. A Hidroxiapatita consititui aproximadamente 70% da dentina, enquanto o restante é constituído por água (20%) e substâncias orgânicas (10%).
Assim as substâncias orgânicas presentes na dentina incluem colágeno, uma proteína fibrosa que confere resistência e flexibilidade ao tecido dentinário. O colágeno forma uma matriz que interage com a hidroxiapatita para fornecer a estrutura e a estabilidade necessárias à dentina.

Polpa Dental – o popular Nervo Dental.
3. Polpa Dental: A polpa dental é a parte mais interna do dente, localizada no interior da câmara pulpar. Ela consiste em tecido mole, contendo nervos, vasos sanguíneos e células que desempenham um papel vital na nutrição do dente durante a formação e desenvolvimento do dente. A polpa dental também é responsável pela sensibilidade do dente, transmitindo informações sensoriais para o sistema nervoso central. Portanto a polpa dental possui uma função imunológica ou seja, protetora, isso permite que polpa trabalhe protegendo o dente contra infecções decorrentes de cáries que possam invadir o canal do dente.
As câmaras pulpares ou seja, os canais dos dentes, possuem infinitas possibilidades de formas e variações anatômicas. A quantidades de raízes que podem ser 1, 2 , 3, 4 ou mais em situações raras faz com que alguns dentes representam um desafio aos profissionais que se dedique a tratar o canal destes dentes.
Examine os desenhos didáticos diferenciando as estruturas dentais:
Mas os dentes não ficam soltos no ar, não é verdade?
Anatomia Dental
Vamos explorar os componetes que mantêm nossos dentes em posição para trabalhar. Vamos falar sobre o “Periodonto”!
O Periodonto é como um abraço ao redor da raiz dos dentes, nutrindo e apoiando-o. Imagine-o como uma equipe composta pela gengiva, osso, cemento radicular e ligamento periodontal, todos trabalhando juntos para proteger e sustentar os dentes.
Classificação conforme a Função
Os membros dessa equipe se unem com o objetivo de fazer duas coisas:
1. Ligar os dentes ao osso e aguentar as forças mastigatórias – o Periodonto suporta e distribui as forças que acontecem quando mastigamos, falamos e engolimos. Por isso nós o chamamos Periodonto de Sustentação.
2. Protege contra infecções: O Periodonto de Revestimento esconde e protege o Periodonto de Sustentação dos dentes. Ele impede que microorganismos invadam e destruam a sustentação dos dentes. É a gengiva propriamente dita, a parte da mucosa bucal mastigatória que reveste os processos alveolares. Por isso nós damos o nome de Periodonto de Proteção
Classificação Conforme o Tipo de Revestimento
Pense na boca como uma superfície viva que tem de três tipos de “pele”:
1. Mucosa de revestimento: cobre o interior da boca, as bochechas(mucosa jugal), a parte interna dos lábios, a parte inferior da língua e a pele úmida e flácida por baixo da língua, na região chamada de assoalho da língua . Essa mucosa de revestimento não faz parte do periodonto.
2. Mucosa especializada: Fica na superfície, principalmente na parte posterior da língua representada pelas papilas gustativas – esse é o grupo que faz o trabalho mais gostoso – sentir o sabor dos alimentos! Evidentemente também não faz parte do periodonto.
3. Mucosa mastigatória: Essa é a “pele” que constitui a gengiva, a verdadeira guardiã do sistema de sustentação dos dentes. Ela é o Periodonto de Proteção. Mas não podemos esquecer que o Palato, ou céu da boca, também é revestido de mucosa mastigatória. Toda essa área possui Queratina – camada de pele feita para resistir ao atrito.
Anatomia de Superfície da Gengiva
A gengiva é o Periodonto de Proteção. Ela se apresenta cobrindo osso alveolar em duas faixas: a gengiva marginal livre (GML) e a gengiva inserida, que é firme e aderida ao osso.
A Gengiva Marginal Livre é a faixa que vai margeando os dentes, são os 2 a 3 milímetros que ficam mais próximos dos dentes. As papilas gengivais são os pequenas triângulos entre os dentes e dão à GML um formato de “V” bonito no espaço entre cada dente.
Gengiva inserida – Esta gengiva é caracterizada por sua imobilidade, aderência firme aos tecidos subjacentes, incluindo periósteo e cemento. Visivelmente aos nossos olhos, ela apresenta um aspecto pontilhado semelhante à casca de laranja devido às cristas epiteliais visualizadas em exames histológicos.
A largura dessa gengiva varia consideravelmente, geralmente entre 1 e 9 milímetros, dependendo da região do arco dental. Na região dos incisivos superiores comumente apresentam a maior largura, enquanto os pré-molares inferiores têm uma largura mais estreita. Além disso, fatores genéticos e a idade influenciam essa variação de largura da faixa de gengiva devido ao desgaste dentário e à gradual extrusão dos dentes ao longo do tempo.
Sulco marginal ou ranhura marginal – é uma linha formada pelo encontro entre gengiva marginal e gengiva inserida. Apresenta-se apenas pelo lado vestibular. Corresponde em altura, ao fundo do sulco
Anatomia Dental
O que faz a gengiva “grudar” na superfície do dente?
Aqui existe um componente importante chamado “Epitélio Juncional”, responsável por fazer a gengiva “colar” na superfície do dente. Portanto ele é responsável por fazer a gengiva aderir e selar esse contato, impedindo que bactérias penetrem entre o dente e a gengiva.
A gengiva inserida tende a expandir sua faixa à medida que envelhecemos devido à força de tração gradual exercida pelas fibras colágenas gengivais sobre ela. Quanto à espessura, ela é mais delgada no lado vestibular (mais fina) e no lado lingual mais espessa.
Lembre-se de que é importante manter a gengiva marginal limpa mesmo que seja difícil alcançar algumas partes. A queratinização da gengiva ajuda na limpeza, mas não é o escudo principal contra as doenças. A melhor maneira de escovar é a Técnica de Escovação de Bass.
Por fim, o “Limite muco-gengival” é como uma linha que separa a gengiva inserida da mucosa de revestimento que é contínua com a mucosa da bochecha.
Sulco Gengival
O Sulco Gengival é um espaço imaginário que existe entre o esmalte do dente e a gengiva marginal livre. Normalmente, ele está posicionado completamente sobre a parte visível do dente, conhecida como coroa. Em condições normais, a profundidade do sulco varia de 2mm nas superfícies livres dos dentes a 3mm nas faces próximas aos dentes adjacentes. Sua delimitação é definida pela parede lateral, que é a parte interna da gengiva livre, a parede dentária e o epitélio juncional localizado na base do sulco.
A parede interna do sulco gengival é revestida por um tipo de tecido chamado epitélio plano extratificado não queratinizado. Esse arranjo ocorre devido ao processo natural de descamação e renovação celular, que auxilia na eliminação de resíduos através da pressão positiva do fluido gengival. Esse processo contínuo evita a formação de uma camada de queratina no interior do sulco gengival.
Anatomia da área do Col
Atenção! Nos destes posteriores, de pré-molar para trás existe uma parte chamada “col”. Na região desses dentes a papila que fica virada para o lado das bochechas(lado vestibular) é distante da papila que fica virada para o lado da língua(lado lingual) devido ao tamanho e formato desses dentes. Então é uma superfície côncava que fica abaixo do ponto de contato entre dentes vizinho. Ali não tem queratina e é de difícil acesso para higienização
(Quando você mastiga alguma coisa mais fibrosa que consegue passar entre os dentes a ponto de entrar e machucar a gengiva, ficando presa entre um dente e outro, nos dentes de trás, é ali que está esse “Col”! é ali onde as doenças podem começar e se esconder. É o ponto fraco da equipe.)
Anatomia Dental – Conclusão
No Artigo “Como está a Saúde da sua Gengiva” nós ampliamos bastante o assunto. Vale a pena ler o artigo.
Conhecer a anatomia dental e a anatomia periodontal e o papel de cada estrutura e seus aspectos naturais nos ajuda a perceber quando alguma coisa está fora de lugar ou fora do normal. Observe esses detalhes e pense a respeito. Verifique se não é hora de buscar um Dentista.
Autor: Nivaldo Pinho Gonçalves, Periodontista CROSC 9696
Refe: SOBOTTA, Johannes. ATLAS DE ANATOMIA HUMANA CABEÇA PESCOÇO E NEUROANATOMIA. 24 3 v. Guanabara Koogan, 2019,
Pingback: Infecções do Siso - Sorriso e Saúde
Pingback: Como é feito um Tratamento de Canal? - Sorriso e Saúde
Pingback: Saúde dos Dentes - Sorriso e Saúde
Pingback: Dente do Siso - Sorriso e Saúde